data-filename="retriever" style="width: 100%;">O Brasil convive com impactante desastre: manchas de petróleo atingindo o litoral de todos os estados nordestinos e causando consequências humanas, ecológicas e econômicas. Milhares de pescadores estão sem trabalhar, o turismo perde movimento e empregos, aquicultura sofre prejuízos, animais mortos ou contaminados, santuários naturais atingidos.
Enquanto escrevo, a origem do derrame no Oceano Atlântico ainda é desconhecida e se multiplicam hipóteses. Análises apontaram que o óleo não é brasileiro, tem características do produzido na Venezuela e deveria estar sendo transportado em navio quando aconteceu o vazamento. Naufrágio? Acidente no transbordo entre navios? Descarte intencional? Navios fantasmas transportando clandestinamente? Perguntas sem respostas, ainda. Surgem tonéis de grande petroleira mundial boiando e com resíduos que parecem compatíveis com o petróleo encontrado nas praias. Enfim, novela e mistérios a serem deslindados.
Emociona ver legiões de pessoas, renumeradas ou voluntárias, na afaina repetitiva de recolher as nódoas que o mar insiste em trazer. E surpreende o despreparo brasileiro. O país produz petróleo principalmente no mar e tornou-se pioneiro na exploração em camada tão profunda como o pré-sal. Por engenho e competência de pesquisadores e operadores, fomos os primeiros a atingir essa área das profundezas oceânicas que é, hoje, responsável pela maior parte da produção petrolífera brasileira, explorado pela Petrobras e empresas multinacionais.
Todavia, ainda desconhecemos totalmente os riscos e impactos para o meio ambiente e as consequências de acidente nesse tipo de exploração. São bilhões de reais em investimentos, outro tanto em comercialização e lucro, bilionários leilões, quantias enormes em royalties para o poder público. E a parcela de dinheiro que deveria ser para prevenção e segurança? Parece esquecida. Legislação existe (por exemplo, a Lei 9.966 de 2000) a respeito de prevenção, controle e fiscalização sobre poluição e acidentes com óleo e outras substâncias perigosas. Regras não faltam. Todavia, no evento atual, inexiste até a quantidade necessária de boias de contenção para proteger áreas como a foz de rios. Temos riscos e não estamos preparados para acidentes mais graves na bilionária exploração petrolífera no oceano.
O século 20 foi a era do petróleo, o "ouro negro" da ganância capitalista. A civilização a ele se moldou e dele depende. Tornou-se principal combustível, o maior responsável pela energia, através da petroquímica está presente no cotidiano das pessoas, inclusive como plástico e suas mil e uma utilidades. Motivou guerras e conflitos. É o grande poluidor na terra, na atmosfera, nos mares. Recurso não renovável, fala-se na sua finitude em prazos que se dilatam diante das novas descobertas. Porém, é certo que o século 21, em algum momento, vai superá-lo, por dispensa em favor do meio ambiente ou por esgotamento da oferta. Os sinais estão aí, do carro elétrico à sacolinha ou na energia renovável. Até lá, o Brasil produtor tem de saber lidar com riscos e impactos, compensar danos, prevenir poluição e acidentes. Não é o que estamos vendo